O brasileiro é possivelmente um dos povos mais experientes no quesito ‘inflação’. A espiral inflacionária ocorrida entre o final dos anos 80 e início dos anos 90 devastou a economia e o poder de compra da população, e é uma das grandes responsáveis pela acentuada desigualdade social que observamos até hoje no nosso país.
Muitos classificam a inflação como um aumento generalizado de preços. Esta definição, apesar de ser a mais comum, é equivocada. Mas então, o que é inflação afinal?
Inflação é o aumento na quantidade de moeda e de crédito na economia. O aumento de preços é apenas a sua consequência mais visível.
Quando o governo incorre em déficits, uma das suas formas de financiamento é através da emissão de mais dinheiro (via Casa da Moeda) e do aumento de crédito (através da diminuição dos dépositos compulsórios dos bancos. Para entender esse mecanismo, recomendo este artigo).
A inflação possui um elevado potencial destrutivo para a economia de um país, reduzindo o padrão de vida da população de duas formas: primeiro, através do do aumento de preços, que leva a uma elevação no custo vida; segundo, prejudicando o cálculo econômico do empreendedor, efeito gerado pela alteração não-uniforme dos preços, o que dificulta mensurar as demandas dos consumidores, gerando uma redução de qualidade dos produtos. O brilhante economista americano Murray N. Rothbard explica por quê:
“Ao criar lucros ilusórios e distorcer o cálculo econômico, a inflação suspenderá o processo – feito automaticamente pelo livre mercado – de penalização das empresas ineficientes e de recompensa das eficientes. Quase todas as empresas irão aparentemente prosperar. Essa atmosfera geral de “mercado propício ao consumo” levará a um declínio na qualidade dos bens e serviços ofertados aos consumidores, uma vez que os consumidores tendem a oferecer menos resistência a aumentos de preços quando estes ocorrem na forma de redução da qualidade.”
O exemplo mais comum deste fenômeno é quando uma empresa sobrestima os seus lucros devido ao fato de que sua receita é auferida em valores atuais enquanto os seus custos foram registrados em uma época na qual o valor da unidade monetária era maior (e portanto, em valor absoluto, os seus custos foram menores do que seriam em valores atuais). Assim, quando a contabilidade indica que a empresa está aumentando os seus investimentos, é possível que esteja somente consumindo estes recursos.
A ortodoxia econômica traz consigo a ideia de que bastam elevar os juros para controlar o aumento de preços. Como se pode perceber no Brasil atual, nem sempre isto é verdade. Apesar do aperto monetário levado a cabo pelo Banco Central, os preços continuam fora de controle, chegando a um aumento de 12,09% no acumulado dos últimos 12 meses. O economista Paulo Rabello de Castro explica onde está o erro:
“O aumento dos preços não será enfrentado através do controle da demanda (via aumento do custo de capital). O problema a enfrentar é o excesso de governo, que gera demandas sem ofertas correspondentes, com gasto público e tarifas sempre indexadas, o que faz com que a sociedade exija a indexação da previdência, dos contratos e dos salários, deixando que apenas os preços no setor livre façam o duro e penoso ajuste, que nunca acabará.”
Em outras palavras, o elevado gasto governamental, que desvia capital do setor produtivo, é responsável pela indexação em cascata, que gera o aumento generalizado de preços.
Além do impacto na economia, vejamos como a inflação afeta os seus investimentos.
Como todos sabem, é muito importante considerar o efeito da inflação ao analisar a rentabilidade de um investimento, A poupança, por exemplo, muitas vezes oferece uma rentabilidade insuficiente para gerar qualquer ganho real. Se a inflação for maior do que a sua rentabilidade, você está, na verdade, perdendo poder aquisitivo.
Por outro lado, uma inflação alta tende a pressionar o Banco Central para aumentar a taxa Selic, o que pode impactar positivamente a rentabilidade dos seus investimentos em renda fixa.
As aplicações com rentabilidade atrelada a índices como IGP-M e IPCA podem ser bem úteis em um momento de inflação volátil ou em tendência de alta. O exemplo mais clássico são os títulos públicos conhecidos como Tesouro IPCA (antiga NTN-B). Existem ainda outras formas de defender o seu patrimônio da inflação, e vamos tratar de uma delas na semana que vem, abordando como investir em imóveis para proteger o poder de compra do seu dinheiro.
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